quarta-feira, 6 de maio de 2009

Traidor do movimento

Na minha cabeça, partindo dos gostos e desgostos, grande parte das pessoas podem ser divididas em dois ou mais grupos.

Um exemplo desse maniqueísmo: pessoas que infelizmente nasceram sem paladar e acabam comendo e, principalmente, bebendo coisas dietéticas, lights e diets X e aquelas que foram abençoadas com o mínimo de discernimento papilo gustavivo e sabem que comida de verdade só se faz com leite integral, açúcar, manteiga gorda, frituras na banha de porco e Coca Cola Natural (a Vermelha), coisas realmente dignas de receberem a nomenclatura de ALIMENTO.

Mas esse tipo de divisão estapafúrdia que regia a minha vida balançou por causa de um acontecimento recente. Um dos meus maiores divisores de pessoas e maior pré-julgamento maniqueísta que eu tinha absolutamente como certo era entre pessoas que gostavam de cães e pessoas que gostavam de gatos. (ó, grande epifania, ninguém nunca tinha pensado nisso, você, o incrédulo troll irá dizer. O problema é que eu acreditava nisso de verdade).

Cães são parecidos com os seus donos. Digo cães qualquer coisa canina com mais de 40cm de comprimento. Menor que isso são apenas wannabes de cachorros que se perderam em algum lugar na linha evolutiva entre ratos do campo e aquele dinossauro que cospe veneno do Jurassic Park.

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Alegres, brutos, dóceis, variando entre algumas outras coisas dentro de cada raça ou tipo de criação, cachorros são foda. Pelo companheirismo ou pela falta de frescura (mais uma vez, estou falando de CACHORROS, não de frufruzetes), são de uma honestidade além do concebível. Óbvio que quem fala que “cachorros são interesseiros e só se prezam por quem lhes dá comida” nunca chegou nem perto de conhecer um.

E quando o assunto eram seus arquinimigos, seus algozes, os putos dos gatos, eu metia a lenha e soltava todo tipo de asneira. Até aparecer isso:


Minha irmã, veterinária recém-formado, agora mora comigo em um novo e cada vez mais apetitoso bairro aqui de São Paulo, Pinheiros, Aquele Que Está A 20 Min De Tudo e Todos (juro, essa característica metafísica precisa ser estudado, né Fran?).

E sendo assim, ainda mais fazendo residência num hospital daqui, óbvio que logo surgiria um mascote. E pelo histórico dos Spuri, conrintianos amantes de cães que odiavam os gatos palmeirenses da vizinha, ele obviamente seria um cachorro. Doce ilusão.

Um belo fim de tarde ali no Bresser, Sr. Cabaço da Silva estava entregando cerveja pelos bares, butecos e restaurantes com seu pequeno caminhão e passou, inclusive, no bar da frente do hospital veterinário. Mas por ser um Cabaço até no nome, não percebeu que havia uma gatinha brincando com um fio da lona de seu caminhão, e saiu pela rua quando terminou sua entrega. A roda passou por cima da pata traseira da gatinha, destroçou tudo que tinha por lá e continuo as tarefas de seu dia. Alguns veterinários que estavam voltando do almoço viram a cena e a levaram rapidamente para o hospital, amputando sua pata destroçada, cheia de borracha nos ossos e completamente infeccionada.

E aí ela apareceu aqui em casa, dentro de uma caixinha, grogue, mas ainda assim muito simpática.

Descobri que toda birra com gatos sempre foi um inconcebível medo, por não fazer a menor idéia sobre o que se passa na cabeça deles (o sistema canino carinho-comida-carinho-bolinha-carinho-mordida parecia que não dava pra ser adaptado ao universo felino).

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Vou descobrindo aos poucos que miados não são de felicidade e que ronronar é bom. Aquela atitude de amassar alguma superfície fofa com ambas as patas com uma cara de satisfação plena ainda não fazem muito sentido, como algumas outras coisas. Mas ver gatos fazendo gatices é uma das coisas mais sensacionais que existem. Pelo que eu entendi, o que passa pela cabeça deles são ações, e nem um sistema linear como o dos cães. Algo como ”vou me amostrar”, “vou xeretar” ou “me deixe em paz dormindo, com leves coçadas ocasionais” parecem que resumem bem as coisas por aqui. Até tô começando a achar graça nas tirinhas do Garfield.

A gata de três pernas, apesar de se fazer pequenas mas constantes burradas e dar uma de Joana sem braço (INFÂMIA) está se adaptando muito bem aos Pinheiros imaginários de Pinheiros. Destemida e cravando as suas unhas filhasdapulta de afiadas que agora compensam o impulso perdido com a patola de trás.

Resumindo, traí o movimento dos caninos. Não sou mais um entusiasta do Canis lupus familiaris e assumo em praça pública que gatos até podem ser legais. Pronto.

Mas não venha tentar me convencer que adoçante pode ser considerado comida, aí já é demais.

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PS: Nunca achei que colocaria uma foto de gato aqui nesse blog ou em qualquer coisa que levasse meu nome, mas está mais do que provado que as coisas mudam. Resistir seria burro e felino.

6 comentários:

José [Zeh] Eduardo disse...

Tô muito orgulhoso de você.

Humildade é praticamente um dom, ainda mais quando se trata de uma briga antiga como essa.

E dá pra gostar muito dos 2 sim. A serena e a hina (bogan) são as 2 cadelas mais simpáticas com as quais já convivi por mais de 15 minutos. E a minha Beagle, saudosa Nena e suas crias.. Como era incrível também.

Só amo mais da Summer porque participei da criação e formação do (mal)caráter dela, desde o pequeno dedo que ela era, até a majestade peluda que é agora.

renato santoliquido disse...

Te conheço rapá

Concordo contigo, a vida se faz a base de leitche e blanquet de peito de peru light; isso sem falar em mini melancias e pizzas do Manolo's (Esse, ao menos, sabe manobrar um caminhão)

agora tu és do malboro clarinho, não do vermelho-coca...

quanto aos felinos, deles nunca fui fã, mas também não detesto. vale aquele cafuné freudiano com a peteca noutra mão, perninha cruzada, mão na barba e cara de Entendo, entendo... entendo perfeitamente!

quero conhecer a nova moradora da toca spuriana - ele ainda não conhece a tradição, o colchão júlio e um certo priminho que folga por aí quando foge de casa.

ao bichano!

Mina Hugerth disse...

Eu sempre disse que quem nunca teve gato não tem como entender a graça dos bixanos (ou as tirinhas do Garfield).

É claro que tem gato chato por aí (assim como cães psicóticos), mas ainda bem que a Cel é fantástica e sociável.

Gatos são um gosto adquirido, como queijos fortes e cervejas amargas.

Jansen disse...

Foda, estou quase caindo na mesma armadilha destes felinos malditos...

Fubim disse...

É Spuri! Sempre te achei um gato mesmo! Ui!

hahaha!

Mas um fato permanece: gato é uma soda, uma sprite. Cachorro vai ser sempre uma coca recém aberta, borbulhando num copão de vidro com muito gelo.

Abraço!

Fran disse...

morar em pinheiros é vida! o táxi nunca sai mais que 25 reais.