segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Top 10 álbuns 2015

Eis que acaba o ano e já dá pra escolher os álbuns preferidos desse longuíssimo e complexo 2015. Ou pode chamar de melhores álbuns mesmo, tudo bem.

1. To Pimp a Butterfly - Kendrick Lamar
Eta que esse foi um arrebento de bom, o cara mais interessante e disposto do rap fez uma parada tão contemporânea, mostrando (e ao mesmo tempo fazendo parte) das grandes discussões do ano, além de ser um incrível exercício criativo sobre até onde o gênero pode ir, musicalmente.

2. A Mulher do Fim do Mundo - Elza Soares Os paulistanos que fazem aquele samba todo quebrado do Passo Torto encontraram a voz que os coloca em outro patamar. Um monte de gente que tem algo a dizer se juntou e e fez um trono estranho e magnífico pra Elza sentar em toda sua majestade. E se levantar a mão pra eles, meu amigo, boa sorte.

3. Carrie & Lowell - Sufjan Stevens
Nunca liguei muito o Sufjan e sempre achei que ele tinha algum parentesco com o Cat Stevens. Dito isso e explicitando minha ignorância, esse me foi apresentado por um amigo e a recomendação foi precisa. A serenidade consegue coexistir com a morte numa atmosfera familiar, etérea, que faz a gente lembrar de coisas tristes, mas que acabam trazendo um sorriso reticente e idiota pra nossa cara e a saudade supera a dor.
4. Beauty Behind The Madness - The Weeknd A arrogância e o talento do The Weeknd são incômodos, mas não tem aquela afetação comum ao pop. É o anti-pop que faz música chiclete, mas que não te deixa confortável.
5. I Love You, Honeybear - Father John Misty
Eu sempre fico com o pé atrás quando conheço aquelas pessoas que eu não consigo identificar se tão falando sério ou brincando. Sério, isso me confunde muito, mas normalmente essas acabam sendo as pessoas que eu mais amo no mundo. Com esse bardo irônico e bêbado a relação foi parecida.

6. Art Angels - Grimes
Soa como algo realmente novo, bem pop, sombrio, raivoso e bizarramente ~meigo~. Me leva ao mesmo lugar que o o primeiro álbum da Lorde me levou. É estranhamente familiar.
7. Rose Mountain - Screaming Females
Um belo power trio com uma frontwoman que minha nossa senhora. Esse Rose Mountain carregada aquela intensidade do DIY ao mesmo tempo que soa cristalino, e é no vai-e-vem entre a virtuose e o punk que ele eclode, sem parecer datado ou espalhafatoso.
8. The Internet - Ego Death
Essa é a juventude que me fascina e me embasbaca. Quanta suavidade, quanta confiança, quanto mojo. Eles atravessam a inquietação juvenil e chegam numa clareira à meia-luz, com o palco armadinho pra que eles destilem seu groove.

9. 1985 - André Whoong
Sobre o que é estar perto dos trinta anos em São Paulo e a festa que é. Tem a empolgação da chegada, a alegria de encontrar os amigos, o desajeitado encontrar semi-conhecidos, aquela hora que você se vê numa roda estranha num assunto sem rumo, quando você percebe que bebeu demais e vai atéééé o dia seguinte.
10. No Life for Me - Wavves + Cloud Nothings
Adoro o Cloud Nothings, conhecia pouco o Wavves, mas eles juntos criaram algo interessante, cheio de refrões grudentos e barulhentos, feito por gente azeda, entediada e talentosa.

E aí que eu fiz uma playlist com as minhas música preferidas desses aí, além de algumas músicas balas que rolaram esse ano. SOLTA O SOM DEEJAY



terça-feira, 25 de setembro de 2012

E se os candidatos à Prefeitura de São Paulo estivessem no universo do Game of Thrones?


Existem dois assuntos que não saem da minha cabeça durante nesse lustroso segundo semestre de 2012: as eleições à Prefeitura de São Paulo, que está saindo da herança kassabística proibitiva, assustada, violenta, desgraçada e desgarrada AND Game of Thrones (ok, As Crônicas do Gelo e Fogo), saga essa que esteve em sua segunda temporada televisiva e seu quinto e mais fantástico livro lançado também neste ano. 

Ignorando a máxima idiota de que política não se discute, o óbvio ululante que brotou em meu cérebro foi: por que não juntar esses dois assuntos pitorescos e que, se usada e abusada da elasticidade de conceitos, até podem se conversar? O exercício é simples: qual personagem ou de qual Casa pertenceriam nosso ilustres candidatos à Prefeitura de São Paulo, caso a vida se passasse em Westeros, com suas comitivas, líderes e escudos maneiros. 

Observação: as comparações com as Casas são do final do segundo livro/temporada, momento da saga que maioria das pessoas está. Se você ainda não chegou lá, talvez encontre algum spoiler leve. Como eu não acredito em spoiler do bem, vá ler os dois primeiros livros ou ver a sensacional série para poder passar tranquilo daqui adiante nesse que será o texto mais interessante da sua vida remelenta.

Sem mais delongas:

José Serra (PSDB), da Casa Lannister
Eles têm dinheiro, eles têm terras, eles têm um código moral bastante duvidoso, amigos poderosos (ou apenas assustados) e vão fazer de tudo pra que sua família seja respeitada. As Ruínas de Castamare poderiam certamente ser sobre as ruínas de Pinheirinho; da Favela do Real Parque; etc. Tenha medo, muito medo. A não ser que você esteja no conxavo.



Haddad (PT), da Casa Baratheon
Vieram de um levante popular e tomaram o poder na base de alianças e do Martelo de Guerra. Agora que estão no poder, brigam entre si, com um lado se aliando com poderosas forças ocultas (Maluf = Melissandre) e o outro lado deslumbrado na esbórnia com a possibilidade de ser Rei para sempre.



Chalita (PMDB), da Casa Frey
Antigos, poderosos e com a posição mais estratégica do reino. Se você quiser conseguir governar, vai ter que se aliar a eles. Mas não caia no discurso cheio de pausas que reforça o senso comum. Se tiveram total confiança, eles vão mudar o jogo quando quiserem, e não vai ser legal.




Soninha (PPS), da Casa Targaryen
Isolada em outro continente, cercada de gente exótica. Apesar de ter sua integridade e valores, toma decisões horrorosas e só se alia com tranqueira. 



Russomano (PRB), Varys, O Aranha, O Eunuco, O Mestre dos Sussurros
Ele não tem casa, não se compromete, e mesmo assim é um dos personagens principais da coisa toda. Um dos mais importantes membros (apesar de ser castrado) do pequeno conselho do Rei, ele sempre apoia seu discurso naquilo que as pessoas querem ouvir. Os mais informados sabem que devem desconfiar de suas supostas boas intenções. É o mestre do disfarce e vai usar a carapuça necessária para conseguir alcançar o poder. Sua rede de espiões e parceiros é a mais poderosa de toda Westeros. 



Giannazi (PSOL), da Patrulha da Noite
Eles têm um código de honra forte, mas estão isolados lá na beira do mundo, sem apoio, mas ainda dispostos a defender o reino dos homens. Nem todos gostam de fazer parte da Patrulha. Tradicionalmente, em tempos de guerra, honram todos os reis e não obedecem a nenhum. 



Levy Fidelix (PRTB), da casa Umber
Pêlos faciais espalhafatosos, discursos inflamados e atitudes extravagantes. Nada além disso. 

Paulinho da Força (PDT), do Povo Pra Lá da Muralha
Povo de excluídos do lado de lá da Muralha, que não tem força política nenhuma dentro de Westeros. Estão se unindo, mesmo que formem uma enorme população heterogênea, para conseguir atravessar pro lado de cá, e fugir da vida braba que existe lá na periferia, incluíndo o estado paralelo de medo constante criado pelos Outros. O Paulinho tá nesse bolo mais pra se aproveitar do movimento do que propriamente ajudar a rapaize a atravessar a Muralha.

Anaí Caproni (PCO), da Irmandade sem Estandarte
Lutam por uma causa perdida, tentam se manter entre membros errantes de diversas casas, semi-mortos de fome e esfarrapados, mas com a certeza de que irão perecer com sua honra intacta. Esperam que seus atos sirvam mais como símbolo do que como alternativa viável de mudança. 

Ana Luiza (PSTU), os Clãs das Montanhas do Vale
Eles tem suas necessidades e suas reinvidicações bem claras, mas quase todas elas são pra partir pra cima, sem paciência pra negociar. Tem uma incrível capacidade de, mesmo em pouco número, fazer muito barulho e fuder qualquer tipo de manifestação sem vínculo com partidos metendo logo uma bandeira na cara de todo mundo. 

Miguel Manso (PPL), de Casa Moreland
Eu não sei nada sobre essa casa, assim como não sei nada sobre o Miguel Manso. 

Eymael (PSDC), alguma casa pequena bastante devota aos Sete
Ninguém da família chega nem a ser um septão, são apenas carolas oriundos de Vila Velha que passeiam por aí, tipo o Eyma e sua democracia cristã. 

Nessa disputa não existe nenhum representante dos Stark, que apesar dos altos e baixos, são os heróis da série. Nessa disputa não existem heróis de causas, apesar de discussão futebolística tomar lugar às dicussões que deveriam ficar no campo político. São partidos e pessoas que representam vários lados de uma mesma São Paulo. 

Não partilho da opinião de uma parcela - bem comum em meu círculo social - de que ninguém que está aí pode representar a maioria das minhas ideias e vontades pra cidade. Essa discussão cheia de nojinho (quem vai votar no PT tem nojo do PSDB, quem vai votar no PSBD tem nojo de votar no do PT) muitas vezes baseado argumentos rasos que são jogados pro alto sem nenhuma responsabilidade e vontade de entender realmente qual é nosso situação no meio desse bolo. 

A Soninha uma vez falou uma frase muito foda, que eu não achei pra copiar exatamente como era, mas seguia mais ou menos assim: “Pedir pra alguém votar aqui é como pedir pra alguém que não entenda nada de baseball, assistir à um vt editado com os melhores momentos da partida e ser obrigado a escolher o melhor jogador”. Pimba. A única diferença é que esse melhor jogador tem o poder e a oportunidade de transformar sua vida e a vida de todo mundo que mora por aqui. Acho que esse é um bom motivo pra aprender as regras do esporte e acompanhar o campeonato de pertinho, né não? 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Red Fang no Inferno


A maior aglomeração de barbudos, gordos e tatuados da América do Sul estava em frente ao Inferno Club, esperando ansiosamente para ver o show que, fora dos padrões da esmagadora maioria das casas de shows de São Paulo, estava marcado para às 18 horas de um sábado.





Uma fila imensa se formou na porta, que só abriu depois das 18h30. Acostumados com filas imensas e lentas, essa que se formou ao longo da calçada da Augusta foi surpreendentemente rápida. O atraso da abertura passou desapercebido quando todos entraram num Inferno fresquinho e amigável. 

Show de abertura eficiente do Grindhouse Hotel, que depois de algumas músicas deixou uma pergunta no ar: por que diabos o Róger Marx (guitarrista de boné, de voz mais grave) não acompanha em todas as músicas? Bastou o cara urrar no microfone para dar uma baita injeção de ânimo.

E aí o Inferno já havia virado o Inferno, em termos bíblicos. Absolutamente lotado, com o ar condicionado vencido e a expectativa na Lua. Os roadies e os próprios membros da banda entram para montar o palco, entre acenos e goles de cervejas. E se tem uma coisa que eu respeito nesse mundo são bandas que montam o próprio palco. 

Começa esse que foi (até agora) o maior show de rock na terra papagalli no ano de 2012. Quem era platéia estava radiante. Quem era banda estava grato por poder tocar ali. E o som, meu deus, estava fantástico.


Pancada atrás de pancada, teve duração suficiente para aguentar a hecatombe de euforia, cerveja e suor. Aaron Beam, o baixista e vocalista, falou tudo: “Nós íamos apenas pra Brasília e nos falaram para vir pra São Paulo. Agora eu sei por que.” E tome riff na cabeça. 




Foi ótimo e surpreendente, o show em si e o público que abarrotou o Inferno. No canal do Dangerladz no Youtube, de onde saíram esses vídeos acima, dá pra ver nove ótimas músicas do show. Incluindo os hits youtubais Wires, Hank is Dead e o clipe que é uma linda homenagem aos jogos de RPG, o Prehistoric Dog.

E Que venham mais bandas de pequeno, médio, grande e gigantossaúrico porte para São Paulo, com a mesma qualidade de som, horário decente e preços razoáveis. 

Agora dá licença que eu vou juntar dinheiro e feminilidade pra conseguir ver a Feist no Cine Jóia. Na apresentação do dia 22/10, porque dia 23/10 é aniversário do Pelé. E do meu pai.  

E pra vocês que acham que eu não tenho critério e fico absolutamente deslumbrado com bons shows e chamo qualquer coisa de show do ano, só digo uma coisa: vocês acertaram.

MAS, para conseguir estabelecer algum critério, segue o top 5 de shows de 2012:

1. Red Fang, no Inferno
4. Mogwai, no Sónar
5. Gogol Bordello, no Loolapalooza

sábado, 21 de julho de 2012

BNegão e Os Seletores de Frequência no Cine Jóia



Ontem foi um show especial. Daqueles que condensam história. De poder ter escutado Planet Hemp nascer, morrer, ter visto o primeiro do BNegão sair na revista do Lobão e agora, depois de oito longuíssimos anos, num Cine Jóia semi-cheio, poder estar no lançamento do Sintoniza Lá.

E realmente foi um lançamento completo. Todas as 11 faixas estavam aparecendo na ordem (incluindo a dobradinha das fantásticas e epifânicas Proceder/Caminhar e Vamo!) quando FOMOS SURPREENDIDOS NOVAMENTE: Dorobô, a música que BNegão gravou com Sabotage, enquanto projeções gigantes do Akira passavam pelas paredes do Cine Jóia. 



Depois dessa supresa, o que era uma bela primeira e rápida apresentação de um novo trabalho ia chegando aos finalmentes. A pergunta era eminentes: mas e o Enxugando Gelo? Calma, cara.

Acabou Sintoniza Lá, última música do novo álbum, e começaram as pancadas. 


Enxugando Gelo. Priorize as Prioridades com um pedacinho de Trem das Onze. Funk até o Caroço e a dupla matadora Qual é o Seu Nome e A Verdadeira Dança do Patinho. Puta. Que. O. Pariu. Amiguinhos. Impressionante como o Enxugando Gelo marcou todo mundo que tava ali.



Fim de show, saem os músicos e sobra só um beatbox + trompete com Minha Jangada Vai Sair Pro Mar. E fim.



Ouso dizer que esse é um dos favoritos a show do ano, mesmo com The Cure vindo aí, Mastodon batendo na nossa porta, Foo Fighters inflamando 70 mil pessoas e o White Denim numa das noites mais pitorescas de São Paulo.

BNegão e os Seletores de Frequência estão oficialmente dentro da categoria bandas-brasileiras-que-meus-filhos-serão-obrigados-a-escutar, mesmo que seja para dizer que não gostam.

Dentro dessa categoria estão Racionais, Los Hermanos, Adoriran Barbosa e Ultraje a Rigor.
E não se esqueça: Hoje pavão, amanhã espanador.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

White Denim em São Paulo, os indies e a apropriação da música por marcas.

White Denim é uma banda indie de Austin , que guarda seus próprios instrumentos e enrola seus próprios cabos. Veio aqui pro Brasil pra fazer alguns shows bem maneiros, dois deles aqui em São Paulo, que pude comparecer. 



Uma carreira frutífera e uma discografia mais confusa que a série Evil Dead concluem em um show explosivo, de pura simpatia e entrega. Enquanto a platéia flana entre momentos de epilepsia e balanços singelos, todos os integrantes da banda estão extremamente concentrados em seus acordes nervosos, solos e mini-solos virtuosos, viradas tortas e grunhidos afinados. E QUE SOM. E QUE SHOWS. Para exemplificar, recursos audivovisuais:



No Beco
Na Virada
Uma virtuose aleatória muito maneira:


Eles conseguem ir de uma extremidade à outra de todas as possibilidades do que se pode ser feito sobre um palco com duas guitarras, um baixo e uma bateria. Ouso dizer que o único show que pode ser considerado equivalente a esse foi o do Dinosaur Jr. no mesmo Beco (que ainda era o Comitê Club) em Setembro de 2010. Sentiu o drama, vagabundo?




Dito isso, um fator me pareceu bastante estranho: onde estavam os indies roqueiros de São Paulo naquela madrugada de quinta-feira no Beco SP - e bota madrugada nisso, o show foi começar lá pelas 2h da manhã...de fuder o assalariado - e naquela manhã de domingo no Palco da São João - e bota manhã nisso, o show começou pontualmente as 7h...de fuder o assalariado - na Virada Cultura? Acho que show do Beco tinham, no máximo, umas 50 pessoas.

Tudo bem, teve show do Ting Tings, Duran Duran, TuNe_YaRdS e Virada Cultural numa mesma semana, difícil o bolso e o fígado acompanharem tudo isso acontecendo, teríamos que priorizar. Mas por que o White Denim, que me parece a banda mais interessante dentro as opções acima (tirando a Virada, que é de graça e gigantossáurica), foi veementemente ignorada?


Fiquei com uma ligeria impressão que os indies paulistanos preferem mais uma bela boca livre do que um bom show.

Não compartilho desse esnobismo nostálgico de quem ficou surpreso quando ninguém reconheceu o cover do Fugazi, tocado pelo Tv On The Radio, mas o que me deixou confuso é o por quê privilegiar uma festa fechada, open bar, com muita GeNtE BoNiTa - termo mais detestável já criado por uma cultura lusófona - do que pagar da própria carteira por um baita show?


Eu também adoro uma boca livre, é uma delícia, mas dentro do círculo dos indies e esnobes musicais em geral essa preferência me parece, no mínimo, contraditória. Ir nessas festas em que são trazidas baitas bandas, mas que ficam renegadas à mera trilha sonora de um convescote.


E isso parte de um movimento que inunda as agências de comunicação daqui de São Paulo (não sei dos outros lugares, mas imagino que não seja muito diferente) = marcas tentando se apropriar da música pra criar uma relação ~ legítima ~ com seu suposto público.

Não é a mais impossível das cenas imaginar o job chegando em uma agência e os criativos convencendo o cliente de que aquela tal banda alternativa é a materialização musical do LIFESTYLE DOS NOSSOS CONSUMERS e tem tudo a ver com a sua marca de areia de gato/ lápis de cor/  insira seu produto aqui. E aí é feita  aquela festona num lugar super coooollll exclusivissíma para poucos e bons. 




E quantos shows fechados ultimamente apareceram por aqui, não? Normalmente esvaziados de quem gosta da banda (como visto no Tv on The Radio no Cine Jóia e Tokio Police Club, que eu não fui, mas ouvi relatos) e recheados de pessoas de costas pro palco. 

Eu não enxergo isso como uma legítima parceria. Apropriação? Forçada, claro, mas não parceria. Não serve nem como um evento cultural relevante pra São Paulo nem como um grande acontecimento pra marca. Óbvio que existem ótimos exemplos de aproximação do público através da música, mas também existe muita preguiça e uma bela dose de covardia dos publicitários que partem pra esse caminho sem nenhum reflexão. E o pior, o único que se lasca é o fã.

O festival Cultura Inglesa, que vai trazer de graça o Franz Ferdinand e o The Horrors no Parque da Independência; aquele show minúsculo do Franz Ferdinand na The Week promovido pela Smirnoff  que teve sua parcela de ingressos vendidos para o público; Os minishows do Ok Go, espalhados pela cidade propostos pela José Cuervo, são todos bons exemplos de como tornar esse tipo de ação mais inclusiva e interessante.

Marcas que trazem bandas debaixo de um contrato de exclusividade tem grandes chances de deixar de fora quem simplesmente gosta daquele som.  E se os fãs daquela banda não são desejados dentro da festinha,  nada mais óbvio que a marca não é relevante dentro do estilo de vida desses fãs, NÃO É MESMO?

Essa bobagem que valoriza a exclusividade e, consequentemente, a exclusão, é um legítimo tiro no pé.  Tentando não ser hippie, mas já sendo, a música é uma das principais ferramentas de inclusão, que permite epifanias e catarses coletivas intensas que não devem e não podem ser limitadas à um grupelho de paulistanos bem relacionados. Óbvio que existem agências de publicidade e de relações públicas que irão conseguir escolher um público certinho, mas puta merda como existem arbitrariedades nessas escolhas.  

E no Rio o pessoal do Queremos aproveita dessa onda tonta do paulistano PRIVATE, se agiliza e repassa os shows a preços razoáveis (já que os shows são no Circo Voador e eles tem uma bela estratégia pra burlar a distopia das carteirinhas de estudantes, que o MaC me ensinou como funciona)  pra geral.  


Resumindo, isso é tipos um apelo. Colegas publicitários, tudo bem fazer a festa fechada, com muito luxo, ouro em pó e raspadinha de champagne, mas não exijam exclusividade da banda. Deixa os caras fazerem um showzinho pra quem realmente gosta do som e só quer ter o direito de pagar do seu próprio bolso pra ver aquele pessoal se esgoelando no palco. 



PS1: Lembro de um texto da Lalai falando mal da negada que suplicava por VIPs em suas festas e que quem realmente sustentava a noite eram as pessoas que se dispunham a pagar por aquilo que estavam aproveitando. Vale a lida.


PS2: Pensei melhor depois de escrever esse texto e reitero a observação “difícil o bolso e o fígado acompanharem tudo isso acontecendo”. Não tá difícil, tá impossível! São Paulo tá sinistro na quantidade e qualidade de shows. Mas o apelo continua, vamos aproveitar a bela safra de shows e deixar a cena musical paulistana mais cheia, mais diversificada e mais intrusiva.