Tudo começou com um inocente meme que a Tay me passou há miliano pelo blog dela. É bem simples:
1. Pegar o livro mais próximo.
2. Abrir na página 161.
3. Procurar a 5ª frase completa.
4. Colocar a frase no blog.
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro! Utilizar mesmo o livro que estiver mais próximo e seguir à risca às outras instruções.
E o livro que estava ao meu lado era: Educação de Um Bandido (autobiografia) – Edward Bunker
“O ponteiro dos segundos avançava lenta mas inexoravelmente, e os outros ponteiros se moviam com a mesma implacabilidade.”
A sorte foi esse ter sido meu livro mais próximo desde Dezembro/08. As quase 400 páginas são fluidas como romances medíocres, mas recheio é sensacional. O texto, assim como a vida de Bunker, é direta e visceral. Por mais que a frase acima não faça jus ao livro, muito menos à vida do autor, ilustra o mais presente dos sentimentos de sua saga, grande parte encarcerada.
“Edward Bunker nasceu em Hollywood em 1953 e passou dezoito anos, divididos em três períodos, encarcerado. Tinha dezessete anos quando foi para San Quentin pela primeira vez e foi o prisioneiro mais jovem a ser enviado para lá. Ele deixou a prisão definitivamente em 1975. Além de sua obra literária, Bunker também fez diversos trabalhos para o cinema, como roteirista e ator. Sua atuação mais lembrada é o personagem Mr. Blue em Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino.” Trecho retirado do site da editora Barracuda.
Aham. É, depois de ler essa petit introduction fica difícil de largar. Tudo acontece lá por aqueles lados da Califórnia, nos desertos e descampados que um maluco algum dia achou genial a idéia genial de se cavocar por lá, plantar laranja, procurar ouro, coisa e tal.
Além de fascinantes regiões desérticas, o livro alinha a história do Oeste estadunidense no decorrer do século 20 partindo da vista, em sua maior parte, de um detento. O legal é a ponte que ele conseguiu construir entre os marginalizados e os intelectuais/artista, partindo da visão muito exclusiva do verdadeiro marginal/artista. Ele é o exemplo máximo dos escritores malditos
Quando soube que o eterno Mr. Blue teve uma puta duma vida, era um baita escritor e ainda atuava fazendo o papel dele mesmo, me ganhou no ato. Quando descobri coisas ainda mais fascinantes:
Edward Bunker faz o papel de um policial no clássico de ação 90´s Tango & Cash, do efusivo Stallone e do camaleônico Kurt Russel. Entre aqueles inúmeros filmes de ação com detetives cachorro, detetive que cai o ombro, detetive que tá se aposentando, todos os tipos de detetives, esse é um dos mais legais. Se você teve infância e SBT, certeza que já assistiu comendo pipoca com Ajinomoto (ou isso era só eu?).
Saindo do devaneio noventista acima e juntando a saga de Edward Bunker com cinema mais uma vez, existe um personagem que, apesar de magistralmente interpretado por Josh Brolim, ficaria über sensacional nas mãos de Bunker: Llewelyn Moss. Um dos principais neo-cowboys do novo e instantâneo clássico “Onde Os Fracos Não Têm Vez”, dos irmãos Cohen.
Apesar do personagem não ser um fora-da-lei clássico, os impulsos instantâneos que o levam a agir são os mesmo que fazem de Bunker quem ele é. São aqueles sem aparentes (veja bem, eu disse aparentes) laços afetivos que se tornam os verdadeiros e furiosos estrangeiros, que na verdade estão exilados pela vida, como Camus um dia mostrou (aliás, Bunker leu O Estrangeiro, dentre muitos outros livros, na prisão).
E descobrindo todos os exilados dos Cohen que passam por obras-primas como “O Homem que Não Estava Lá” – mais literal impossível -, “O Grande Lebowski” e tantos outros, descobri um filme escritos pelos irmão, mas dirigido pelo Sam Raimi !?
Sam Raimi fez os Homem-Aranha (e?) e os filmes de gore/terror/autoral pastelão como A Morte do Demônio, a Encarnação do Demônio 2 e Uma Noite Alucinante 3, que podem ser considerados as continuações e os nomes mais sem sentido da história do cinema. Apesar de não ter nada a ver com grandes sagas americanas, estrangeiros marginais ou ter o mínimo de critério com o início desse post, são muito legais.
Vai atrás do Crimewave, escrito pelos Cohen e dirigido pelo Raimi num longínquo 1985 e delicie-se com essa bela parceria (que eu ainda não vi). Se encontrar, me avise.
Um comentário:
Como sempre, captions muito refinandos.
E então a conclusão é que o Bunker seria um bom zumbi, não é mesmo?
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