A interação eminente e sua efemeridade deixam aquilo que acontece no espaço cênico muito mais intenso. Um olhar, aquela pergunta direcionada ou mesmo uma puxada que te leve pro meio do palco são atitudes que certamente irão te tirar da área de conforto. E nem todo mundo gosta, né mermo?
Eu até gosto, quando me preparo físico e psicologicamente para tal. Mas nunca que ficaria pelado meio no meio do palco do Zé Celso, como acontece até com delicada freqüência.
Colocado isso, num domingo sufocante que despontava noo horizonte um insosso Corinthians X Marília, surgiu a idéia de assistir a peça sensação do ano passado: Vemvai, o Caminho dos Mortos. A direção é da Cibele Forjaz e o texto do Newton Moreno, feita pela Cia. Livre. Resumindo sem spoilear, Vemvai é:
“uma reflexão sobre a morte, baseada em mitos e contos dos povos indígenas sul-americanos, como os Araweté, Parakanã, Wayãpi, Marubo, Pakaa-Nova, entre outros.(...)convida os espectadores a presenciar histórias e narrativas míticas que re-significam os vários estágios da morte: a morte ritual, a morte física e os ritos funerários. A peça recebeu os prêmios SHELL 2008 de Melhor Direção (Cibele Forjaz) e Melhor Atriz (Lúcia Romano) e o Prêmio Contigo 2007 de Melhor Dramaturgia (Newton Moreno).”
Tirando o Prêmio Contigo, tudo isso parece muito pseudo intelectual de brasileiro metido a hipponga limpo. Ledo engano.
Começa meio truncada, mas depois entra numa fluência ritmada, marcada com tambores e sons hipnóticos. A quebra dos atos, das locações e as incríveis imersões realmente parte de uma travessia maior. Surpreendente como eles conseguem lidar com cotidianos e as lendas que, se fossem contadas de outra forma não variam o menor sentido, nem como parte do todo, muito menos como fragmentos.
Algumas referências atuais, misturadas com a temática atemporal colocam essa peça num lugar extremamente peculiar de representações, que muito me agrada e sempre me deixam catatônico pela grandiosidade dos temas tratados.
E catatônico fico por um bom tempo. Achei que era mais difícil tratar a morte com curiosidade, mas depois da peça, isso que realmente parece o mais coerente. Engraçado perceber que os índios tratam a morte com mais respeito e simplicidade, e os iluministas ateus geniais e pentelhos continuam se cagando pra ela. Vai saber né, continuo achando que a melhor técnica é dar uma de PSDB e ficar em cima do muro, chegando lá a gente mostra o que sabe pra quem for e tamos aí!
E saindo do assunto morte, voltamos ao teatro. Como vou bem menos do que gostaria, assim como a grande maioria das pessoas que eu conheço, vou recomendar algumas cositas:
E duas que ainda estão e cartaz e precisam ser assistidas:
Avenida Dropsie – O meio termo entre Praça Roosevelt e Teatro Abril. Produção e direção sensacionais, e o texto é quase do Will Eisner.
Não Contém Glúteos – A melhor peça de comédia que eu já assisti. Juro, os caras são geniais e usam o espaço cênico como poucos. E ainda ouso dizer que dou tanta risada quanto assistindo à Monty Phyton (ur), Look Around You, Family Guy e Simpsons.
Duas que eu não assisti, mas recomendo mesmo assim:
Filosofia na Alcova – É Sade né, deve ter algum peitinho de bobeira por lá, mas acho que é dever cívico assistir esse tipo de montagem.
A Vaca de Nariz Sutil – Já comprei ingresso e perdi a sessão duas vezes. É a primeira montagem dramática do pessoal do Parlaptões.
Que eu me arrependo amargamente de ter perdido:
A Noite dos Palhaços Mudos – O texto era do Laerte e a peça era feita por clowns de verdade. Isso pra mim já basta, bufão miserável.
Uma que você perdeu:
Centro Nervoso – Um texto do Fernando Bonassi sobre vários tipos de dor, sem ser nem um pouco doloroso. Tem as trucagens mais incríveis e coerentes que eu já vi, sem serem espalhafatosas.
Um comentário:
Realmente é uma peça fabulosa.
Vários socos no estômago, mas sempre alternando com momentos de calma, pra gente dar conta da pancadaria.
Você esqueceu de comentar o curioso método de pagar pela peça: paga-se o quanto quiser/puder. Justo. Estranho: paga-se antes de assistir.
Talvez para não criar uma cultura de paga-o-quanto-vale, pois seria mais prático que as pessoas preenchessem um papelzinho se fosse o caso. Ainda ssim, acho que os aplausos bastam.
É um exerício curioso desembolsar um valor que você determina sem saber se está sendo - no mínimo - justo.
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