sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Quadrinistas e quadrineiros

Conheço dois tipos de pessoas que gostam de HQs:

O primeiro é aficionado por grandes publicações e os grandes heróis. Dc, Marvel, Vertigo, aquela coisa toda. Podem ser sagas megalomaníacas ou histórias entresafras ruinzinhas que as editoras produzem pra como caça níquel. Acompanham os maiores lançamentos e ficam espertos com as parcerias entre roteiristas e desenhistas mais fodões como Garth Ennis, Warren Ellis, John Cassady, Mike Mignolia, Steve Dillon, Brian Azzarello e outros milhões.

O segundo tipo é um pouco mais complicado. São aqueles que são só um pouco nerds, gostam de babação intelectual, traços de personalidade e obras autobiográficas sobre alguma tragédia pessoal ou familiar. Joe Sacco, Art Spiegelman, a minazinha do Persópolis (Marjane Satrapi), Pierre-François Beauchard (David. B), Charles Burns e todos os rebentos de Robert Crumb e Harvey Pekar são os preferidos. Gente bacana, elegante, cheia de complexos, uber perturbados e criativos.


Óbvio que tem aqueles que agradam gregos e troianos como Alan Moore e Neil Gaiman, os maiores e mais representativos ainda em atividade São exemplos que passeiam tanto pelo comercial quanto pelo autoral.

Eu, particularmente, gosto dos dois gêneros. Tanto a questão cultura pop/indústria cultural do primeiro, como as críticas e crises pessoais/políticas do segundo.

E cada um deles tem seus clássicos, que são as melhores e mais fascinantes portas de entrada pro universo dos quadrinhos (ou encha a boca pra falar: graphic novel, pfff). Listei aqui aquelas obras que me devoraram pra um caminho sem volta. Além de colocar um petit comentário sobre a importância delas e seus principais diferenciais, coloquei também um link direto pras resenhas do UniversoHQ que, apesar de não concorda 100% com algumas, são didáticas e funcionais. E lá vamos nós:

Os comerciais, mas sensacionais.

Planetary – A melhor e mais incrível saga dos quadrinhos da última década. Tudo é primoroso. O traço do John Cassady , as cores da Laura Martin, e o roteiro absurdo do Warren Ellis são de uma afinidade difícil de acontecer novamente. Roteiro que assusta pela quantidade de referências e cuidado com cada uma das mínimas passagens da história, sem um único furo no roteiro. Poderia ser um clássico instantâneo, se fosse mais bem distribuído e apresentado aqui pelo Brasil.


A edição da Conrad dos Arqueólogos do Impossível (como se autodenominam) é sensacional, com uma puta pesquisa no final de cada capítulo que esclarece todos “mas onde será que eu já vi isso antes?” que irão se formar nessa sua cabecinha perturbada. O grande problema é que o primeiro encadernado Planetary - Ao Redor do Mundo, da Pandora Books tá esgotada. Só consegui a edição gringa, que valeu cada minuto da busca.


O blog http://guiaplanetary.blogspot.com/ é perfeito pra quem começou a ler e ficou um perdidinho. "Esse é um mundo Estranho. Vamos mantê-lo assim."

link Universo HQ
Wikipedia


Ex-Machina – Um cara que conversa com máquinas e acaba virando prefeito de Nova Iorque. É humanamente contemporânea sem cair no senso comum, e trata pessoas (supers ou não) como pessoas. Resenha aqui.


Preacher – É a história de Jesse Custer, um reverendo que encarnou uma entidade fruto da fornicação de uma demônia com um anjo, capaz de resolver tudo com a Palavra. Com o poder no corpo, resolve prestar as contas com Deus, que largou o posto de soberano e fugiu de medo. Ele anda com Cassidy, um vampiro irlandês e Tulipa, saída diretamente de Assassinos por Natureza (menos sádica). Uma roleta que poderia facilmente ser tarandinesca, se o Tarantino ousasse falar sobre coisas maiores (esperamos que com esse filme, isso mude). Resenha acá.

Promethea – Uma obra sobre a própria-obra. A força do pensamento onírico e como ele influência plano físico. É uma história mais didática, que cria um universo (dois, na verdade) muito próprio e explica um milhão de coisas sobre ocultismo, magia, sociedade moderna, heróis, projeções e celebridades. Tudo acontece de um jeito bem natural, como só Alan Moore poderia fazer. Muitas vezes parece confusa, mas depois que engata vai que vai. PS: é sobre mulheres, sem ser de mulherzinha. Olha a resenha aqui, ó, agora do Omelete (que tem a primeira frase sensacional).


Os autorais, mais que legais:

Black Hole – Angústias adolescentes e doenças sexualmente transmissíveis levadas à exteriorização grotesca. Resenha.

Persépolis – Político e faz parte da nova onda de quadrinhos engajados. Chamou bastante atenção por ser escrito e desenhado por uma mulher de dentro do mundo mulçumano. Resenha.

Estigmas – Quadrinho italiano de grande qualidade gráfica e de um lirismo impressionante. Passa por questões religiosas sem cair na mesmice (ok, talvez com a história daquele Santo que não acreditava em Deus) e com uma sutileza de poucos. Resenha.

Mesmo delivery – Artístico e pessoal. Violência estilizada permeada por músicas. O autor Rafael Grampá já tinha ganhado um prêmio Eisner junto com os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon e teve essa publicação indicada como um dos melhores lançamentos de 2008 pela Wizard. Vê aqui.

Transubstanciação – Lourenço, O Mutarelli – Antes disso eu não acreditava que a arte seqüencial brasileira poderia ser tão soturna, verdadeira e visceral. Antes ele trabalhava nos Estúdios Maurício de Souza e migrou pra desgraça depois de uma brincadeira estúpida feita por “amigos” que simularam um seqüestro. É pra quem tem estômago forte e cabeça solta. Não achei a resenha, mas aqui tem uma entrevista que ele deu pro pessoal do Universo HQ.

Se for escolher qualquer um desses acima pra começar a sua própria saga pelos quadrinhos, vai que dá!

e clica aqui e veja todos os heróis Marvel numa compilação de capas sensacional, a coisa mais legal do mundo dica da ManuMyCool.

7 comentários:

Mina Hugerth disse...

Uau!
E eu que achava que seria fácil.
Como não li nenhum, não sei dizer se foi uma boa seleção, mas pretendo descobrir! De qualquer forma, promete.
Sempre é bom quando há gente disposta a expor seus conhecimentos para o mundo de forma a agregar mais gente.
Inspirador. Muchas gracias.

leila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
leila disse...

a moça aí, a primeira da lista, me recomendou ler este post (eu acho). bacana tuas críticas, ainda quero ler planetary quando tiver um tempo bacana. o trampo de cassaday em astonishing x-men foi fantástico!

mais uns pra sua lista, caso queira uma opinião de alguém de fora:
- leões de bagdá
- y: o último homem
- kill your boyfriend

abraço!

ps.: vc já viu a animação de persepolis? vale a pena, apesar de ser inferior aos quadrinhos

Fernando Spuri disse...

putz que los te pariu!

o Cassaday no Astoishing X Men foi sensacional, peguei a edição encadernada faz pouco, surpreendente.

O Leões de Bagadá é o próximo da lista, por mais que eu tenha um sério problema com animais falantes.

Y: O Último Homem eu tenho acompanhado pela Pixel Magazine, mas é torturante esperar cada mês pra vir um pingo de história.

E Kill Your Boyfriend eu nunca vi e vou procurar djá.

Valeu pelo comentário, e vamos trocar mais figurinhas!

renato santoliquido disse...

Aaah Fernandinho,

Gostei do resumão sobre quadrinhos, coisa que pouco conheço e muito me interessa.

Não imaginava tanta diversidade de abordagem para esta prática que por muitos (você incluso) é considerada arte. Confesso que se mergulhar de cabeça vou me juntar esses tantos.

Mandou bem mesmo. abc

leila disse...

tranquilo, moço...qq coisa, só pegar meu contato que vamos nos falando. tenho outras dicas também que andei relembrando agora.

vc já deve ter pesquisado, mas em todo caso, "kill your boyfriend" é do grant morrison, o mesmo que revolucionou os x-men no começo desse século (junto com frank quitely - vale a pena ler também!)

C disse...

Só comentando pra avisar o que vc já sabe...foi memezado! http://garotaproblema.wordpress.com/2009/01/26/uma-vida-de-memes/